Espingarda
Todos falavam sobre a habilidade do garoto - e não sem razão. Era coisa de outro mundo o que ele fazia com os pés. Era algo incrível e parecia incomparável a qualquer outro antecessor. Apesar das pernas tortas, ele era rápido, tinha força, um gingado e uma malandragem que não negavam a brasilidade. Desde muito cedo, ele havia aprendido que o mundo ao seu redor não perdoava falhas. Criado em um ambiente onde o erro era sinônimo de punição severa, ele desenvolveu uma determinação feroz para ser impecável em tudo que fazia. A sua pequena figura escondia uma resiliência descomunal, algo forjado no calor das expectativas esmagadoras e da dura realidade que vivia. O teste de fogo veio em um dia comum, mas para ele, era o dia decisivo. O chão recém-limpo brilhava sob a luz da manhã, e a pá de lixo estava ali, desafiante, esperando para ser manuseada. Com o pé direito, ele a segurou com a destreza que todos admiravam. Seus olhos estavam fixos, cada músculo em tensão, buscando a perfeição. Mas ...