Ele deixou cair no cinzeiro o cigarro que se apagara. -Uma vez, quando era menor ainda do que você, brincava com um espelhinho à beira de um poço da minha casa, eu morava numa fazenda meio selvagem. O poço estava seco e era bonito o reflexo do espelhinho correndo como se fosse uma lanterna pela parede escura, sabe como é, não? Mas de repente o espelho caiu e se espatifou lá no fundo. Fiquei desesperado, tinha vontade de me atirar lá dentro pra buscar os cacos do meu espelho. Então alguém - acho que foi meu pai - levou-me pela mão e me consolou dizendo que não adiantava mais nada porque mesmo que eu juntasse, um por um, os cacos todos, nunca mais o espelho seria como antes. Sabe, Virgínia, vejo Laura como aquele espelho despedaçado: a gente pode ir lá no fundo e colar os cacos, mas tudo então o que ele vier a refletir, o céu, as árvores, as pessoas, tudo, tudo estará como ele próprio, partido em mil pedaços.
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Mostrando postagens de dezembro, 2013
Ganhar tempo.
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Um alicate de unhas velho, sujo, levemente enferrujado,com a cabeça cega e de cabo rosado. Lapiseira verde com escrituras do fabricante apagadas pelo tempo. Borracha branca com capa azul; desgastada. No outro lado, o esquerdo, havia o telefone antigo, daqueles de enfiar o dedo e rodar; próximo a isto, uma moeda de 10 centavos esquecida pelo tempo e pelo valor, sobre alguns papéis com umas anotações quaisquer; riscadas em traços de tinta vermelha. No chão, uma xícara de café suja e com formigas. Ao lado desta, um cinzeiro fedorento de cigarros que um dia foram testemunhas do desespero humano. Sentado sobre uma cadeira que ecoava balbúrdia no menor movimento, ele tinha certeza de que aquela seria uma noite de decisão muito difícil.
O ex-1° Oficial.
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Havia assumido o posto de 1° oficial tinha pouco tempo. Inclusive, aquela era a minha primeira viagem como tal, no imenso navio Celestino de Nóbrega. O comandante da embarcação era homem polido; e, após o jantar das 20 h, logo se recolheu ao seu camarote no último andar, mas não sem antes fitar 360 graus da ponte de comando o alcance mais distante que seus olhos pudessem ver; nenhuma intempérie natural e nada além de água foi identificado. Chamou-me em momento rápido e particular, deu algumas orientações e aconselhou que eu usasse o camarote de 2° oficial, por problemas de higienização no 1°. Havia morrido rato no local. Agradeci e disse que iria fazer uma análise e, se realmente tivesse inóspito, voltaria ao camarote de 2° piloto - o que eu não gostaria; pensei. Fonte: Google Imagens Os outros marinheiros desceram para porão, e como de costume, iniciaram a jogatina que estender-se-ia a noite inteira. Depois de constatar que nada de anormal havia no meu camarote ...