Jesus Cristo.
Jesus Cristo.
Eu tinha não menos que 8 e não mais que 10 anos de idade. Dormia numa cama de casal, grande, ao lado da minha mãe.
Aquela não parecia ser uma noite diferente. Tudo parecia dentro da normalidade, inclusive o medo terrível que eu tinha de uma moldura de madeira antiga e brilhosa que guardava uma foto clássica de Jesus Cristo, daquelas em que ele está com as mãos abertas ostentando os furos dos pregos em uma ferida visualmente recente.
Aquela não parecia ser uma noite diferente. Tudo parecia dentro da normalidade, inclusive o medo terrível que eu tinha de uma moldura de madeira antiga e brilhosa que guardava uma foto clássica de Jesus Cristo, daquelas em que ele está com as mãos abertas ostentando os furos dos pregos em uma ferida visualmente recente.
Eu sentia medo. Muito medo. Eu sentia a dor das mãos perfuradas e imaginava o tempo inteiro que ele sairia daquele quadro para se vingar dos que o torturaram até a morte. Isso estava na minha cabeça e, naquela noite, eu notei - em visão periférica - o quadro se mover ou algo dentro do próprio quase se mechendo. Criei coragem, virei o rosto em direção à moldura e fixei o olhar na figura. Nada vi além do Cristo imóvel. Conclui que era imaginação.
Virei novamente o rosto para o lado e neste momento tive a nítida e exata sensação de ver a mão de Jesus se movendo. Ainda que levemente ela, de fato, se moveu. Fixei olhar novamente ao quadro, agora com os pelos arrepiados e um frio indescritível na espinha. Mais uma vez, quando eu olhei, o quadro parecia normal, mas eu já estava me tremendo de medo. Fechei os olhos com força e embrulhei-me em um lençol velho e fino, quase transparente. Minha respiração ficou ofegante, o corpo cada vez mais trêmulo, sensação de que havia alguem ali pertinho do lençol, me observando, me amedrontando ou querendo me fazer algum mal. Vivi um dilema de segundos. Um contraponto entre o medo extremo e a curiosidade infantil que me forçava a sentir vontade de abrir os olhos novamente para tentar ver, pela penumbra, se a imagem de Jesus Cristo continuava a acenar a mão perfurada para mim ou demonstrasse qualquer sinal de vingança.
Abri os olhos e confirmei: as mãos levemente se moviam dentro do quadro. Me desesperei e dei um berro altíssimo chamando por minha mãe. Ela acordou assustada e me abraçou. Havia sido apenas um sonho. Um pesadelo terrível que tive. Minha mãe, a pedido meu, pegou a foto do quadro emoldurado e a queimou na minha frente. Só a partir daí consegui dormir com tranquilidade, porque naquela noite eu tive certeza absoluta: aquela foto entrou no meu sonho de verdade.
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