Há uma época em Belém do Pará que a gente costuma chamar, sem medo de exagerar, de “natal do paraense”. Não é força de expressão. É o Círio de Nazaré, em outubro, quando a cidade inteira muda de ritmo e de cheiro. Não vou me prender à história - isso os livros e os devotos contam melhor do que eu. Falo como quem vê de fora, mas não consegue deixar de se encantar. Minha mãe bem que queria que eu fosse mais religioso, mas Deus me deu pouca fé, embora isso não me faça perder a oportunidade de me deliciar nas pequenas coisas que só essa época traz. Porque é nessa época que o paraense se torna ainda mais paraense. As panelas recebem pato no tucupi, como se fosse impossível não cozinhar esse prato em outubro. Aliás, o tucupi tem algum limite? Tudo que ele toca ganha alma. A maniçoba, então, fica ali borbulhando sete dias inteiros no fogo, quase como uma reza que se faz com colher de pau. E, de noite, as janelas se iluminam com velas tremulando - e cada casa parece carregar dentro dela um...
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