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Mostrando postagens de 2015

Frio, muito frio.

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Cheguei à pousada - que mais era um antigo bangalô adaptado para receber hóspedes-, naquele inverno rigoroso, cansado demais para fazer qualquer tipo de avaliação sobre o local. Só notei que era uma das poucas habitações à beira daquela estrada.

Toxicity &~

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Fonte: Google Imagens A sensação foi estranha. Muito estranha. Primeiro eu esqueci onde estava. Depois eu não percebi o tempo. Depois eu não senti meus dedos das mãos. Em seguida não senti meus pés no chão. Sentar foi, então, a solução. Até o amor me abandonou. Eu não senti nem medo. Estava gelado. A sensação foi estranha. Muito estranha. No meio de tudo não sobrou quase nada. E o que restou?

Você alcançou a paz, Molequinho.

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Ontem foi um dia difícil. Muito difícil. É muito doloroso sairmos da nossa zona de conforto e vermos que, ao redor desse mundo imenso e imundo, têm pessoas tão dignas de viver quanto a mim, mas que não têm chance nenhum. As imagens da criança morta, afogada em um naufrágio, aguçaram meus sentidos mais profundos. Hoje eu vejo, escuto e sinto muito mais do que deveria. E isso dói. Dói demais. Dói como uma dor aguda, no fundo da alma, trancada, claustrofóbica, aterrorizante. Dói como o frio gélido do pólo norte. Ou como o calor imensurável de um vulcão. Dói porque não consigo tirar a dor dele e delegar a mim.

Talvez mereça uma crônica

- Dava pra fazer uma crônica. Foi a frase que ouvi logo depois, mas decidi não escrever nada. Aquilo, para mim, não era tão relevante assim. Todos os dias acontecem coisas extraordinárias. Por que o Ádimo teria se encantado tanto? Era apenas um simples par de brincos. Não. Não merece uma crônica. Vai ver a cliente já estava enjoada da peça e não resistiu à singelo elogio da caixa. Talvez tenha tocado seu coração de maneira tão forte que, a doação se tornou algo inevitável. Talvez aquele par de brincos tenha sido um presente de alguem especial que veio à lembrança tão logo o elogio foi jogado à cliente, que deu de ombros à emoção invadida. Talvez a caixa do supermercado tenha lembrado alguem, fisicamente, por quem a cliente tivesse um carinho diferenciado.

Ponto e vírgula

As vírgulas simplesmente não me suportam.  Quando escrevo, teimam em se  meter no lugar errado. Talvez por que, em alguma vida passada, eu tenha sido um ponto e vírgula. 

As palavras escritas.

As palavras para mim são muito mais que fonemas  emergidos da concatenação de síladas tônicas e átonas. Elas podem representar coisas épicas e grandes,  como as proparoxítonas. Ou nem tão grandes assim,  como as paroxítonas. Mas também,  podem ser oxítonas  e agregarem informação. Às vezes têm cheiro de solidão  e formam um hi-a-to. Outras vezes têm gosto de convivência  e formam um ditongo. É mais ou menos assim:  gosto das palavras ouvidas.  Gosto das palavras ditas.  Mas nada, para mim, se compara às palavras escritas.

Jesus Cristo.

Jesus Cristo. Eu tinha não menos que 8 e não mais que 10 anos de idade. Dormia numa cama de casal, grande, ao lado da minha mãe.  Aquela não parecia ser uma noite diferente. Tudo parecia dentro da normalidade, inclusive o medo terrível que eu tinha de uma moldura de madeira antiga e brilhosa que guardava uma foto clássica de Jesus Cristo, daquelas em que ele está com as mãos abertas ostentando os furos dos pregos em uma ferida visualmente recente. Eu sentia medo. Muito medo. Eu sentia a dor das mãos perfuradas e imaginava o tempo inteiro que ele sairia daquele quadro para se vingar dos que o torturaram até a morte. Isso estava na minha cabeça e, naquela noite, eu notei - em visão periférica - o quadro se mover ou algo dentro do próprio quase se mechendo. Criei coragem, virei o rosto em direção à moldura e fixei o olhar na figura. Nada vi além do Cristo imóvel. Conclui que era imaginação. Virei novamente o rosto para o lado e neste momento tive a nítida e exata sensação de v...

Amadurecer

Minha inspiração se dissipa  à medida em que amadureço. Deve ser, portanto, por isto. A inspiração é diretamente proporcional à imaturidade. Produzir conhecendo regras  é limitar a beleza do desconhecido. É tentar achar que conhece  o que jamais deveria saber.

{Eu vivo em tempos sombrios.}

Eu vivo em tempos sombrios. Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez, uma testa sem rugas é sinal de indiferença. Aquele que ainda ri é porque ainda não recebeu a terrível notícia. Que tempos são esses, quando falar sobre flores é quase um crime. Pois significa silenciar sobre tanta injustiça? Aquele que cruza tranqüilamente a rua já está então inacessível aos amigos que se encontram necessitados? É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver. Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome. Por acaso estou sendo poupado. (Se a minha sorte me deixa estou perdido!) Dizem-me: come e bebe! Fica feliz por teres o que tens! Mas como é que posso comer e beber, se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome? se o copo de água que eu bebo, faz falta a quem tem sede? Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo. -Bertolt Brecht-