Aqui jaz a lâmpada vermelha.

Havia uma lâmpada vermelha em uma casa de shows que se destacava das demais lâmpadas que iluminavam o ambiente de telhado rebaixado. Era uma lâmpada diferente, especial de alguma forma, e possuía algo que as outras não tinham: consciência.

Era uma dádiva e uma maldição ao mesmo tempo para a lâmpada vermelha. Ela sabia que tinha um tempo de vida limitado para brilhar, ao contrário das outras lâmpadas que iluminavam a noite sem se preocupar com o suas próprias "mortes". Isso a angustiava profundamente, pois a ideia de que um dia ela se apagaria para sempre a perturbava.

Mas - curiosamente - apenas as pessoas mais sensíveis que frequentavam aquele ambiente festeiro conseguiam perceber as nuances da lâmpada vermelha. Seu brilho tinha algo de mágico, algo que tocava o coração daqueles que a observavam com atenção. Para a maioria, era apenas uma lâmpada vermelha como qualquer outra.

Às vezes - por momentos curtos mas aterrorizantes - a lâmpada vermelha se apagava devido a uma falta de luz ou algum problema elétrico. Nesses momentos de escuridão, ela se via sozinha, perdida em seus pensamentos. Era um momento de reflexão profunda, uma pausa em sua vida luminosa. Mas sempre reacendia, como um recomeço, um renascimento.

Ela vivia em uma casa de shows bastante movimentada na cidade de Belém-PA, onde as pessoas pareciam sempre felizes e cheias de vida. Às vezes, ela se misturava com a alegria da multidão, compartilhando seus momentos de euforia. No entanto, em outras ocasiões, mesmo no meio de uma multidão, ela se sentia profundamente solitária, como se ninguém pudesse entender suas preocupações e seus medos. Seu brilho diferenciado.

Durante a semana, a lâmpada vermelha brilhava solitariamente ou nem brilhava, sem a presença de ninguém ao seu redor. Nessas horas, ela se sentia ainda mais consciente de sua solidão e do peso de sua existência efêmera.

Mas, mesmo com todas as suas angústias e preocupações, a lâmpada vermelha continuava a brilhar, destacando-se das demais não apenas por sua cor, mas principalmente pela maneira única como iluminava o mundo à sua volta. Mesmo que apenas as almas mais sensíveis pudessem compreender verdadeiramente sua beleza e sua profundidade, ela continuava a irradiar sua luz, deixando sua marca no coração daqueles que a observavam com cuidado e atenção. A lâmpada vermelha era, de fato, uma lâmpada especial, uma joia brilhante em meio à escuridão da noite.

A observei em 2011, mais especificamente em 27 de março de 2011, um domingo de Mormaço - nome da casa de shows. Hoje, infelizmente, a lâmpada jas. Seu brilho morreu de cansaço ou de falta de cuidado humano, mas é certo que acabou, como tudo na vida. Mas, por algum motivo aquela lâmpada foi tão especial que me fez pegar anotações de 29 de março de 2011 e transformar neste conto em 04 de fevereiro de 2024, que é seu formal lápide, feito num domingo, com o respeito, atenção e carinho proporcionais ao momento que a lâmpada nos proporcionou. Foi um momento de brilho único.

Onde quer que esteja e como esteja, obrigado Lâmpada vermelha.

- Observação relevante ------------------------------

As anotações originais sobre a Lâmpada foram a mim enviadas pela minha então namorada, Taiana Ladeira, hoje esposa. Passamos a noite inteira admirando aquela lâmpara. Duas almas apaixonadas e sensíveis aos mínimos detalhes num momento em que tudo o que eu respirava queria tranformar em textos.




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