Workaholic

O barulho era forte. Parecia alguém desesperado. No entanto, a exaustão acumulada após longas horas tentando dormir era mais avassaladora. Pensamentos sobre o trabalho e diversas inquietações permaneciam incessantes em minha mente.

Quando ouvi o desespero na voz que gritava: "Ádimo, Áaaadimo, Áaaaaadimo," não tive outra escolha senão levantar. Ainda meio tonto, sem saber diferenciar sonho de realidade, caminhei em direção à janela.

Com um andar tão lento que mal tive tempo de ver a cara do desesperado que me chamava àquela hora inoportuna, cheguei à janela. Debruçado para fora, não vi mais que um cachorro idoso, debilitado e doente, revirando sacos de lixo pela gélida rua cinzenta, provavelmente em busca de alimentos. Pobre animal! O próprio vento tinha mais sorte em encontrar comida em meio aos entulhos acumulados pelo povo mal educado que habitava o bairro de classe média da pacata cidade, que naquele ano vivia um dos invernos mais chuvosos de todos os tempos, localizada ao norte da Floresta Amazônica. Além do cão, só se ouvia o sibilar da brisa gelada e notava-se uma fraca neblina.

Fechei a janela e ganhei uma farpa de madeira enfiada no dedão da mão esquerda, que só notei depois de procurar um cigarro na algibeira da camisa usada como pijama. Retornei à cama, reprimindo o impulso de proferir um "Filho da puta que me acordou a essa hora." Provavelmente jovens sem melhores ocupações.

Voltei a dormir. Ainda havia meia noite de sono pela frente. Um milésimo de segundo depois, ouvi um som, dessa vez suave como uma melodia clássica, em contraste com a intempérie anterior. Era o despertador, lembrando que eu precisava acordar para mais um dia de trabalho.

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Redação Enem 2013