Hipster
Um estalo na minha memória me faz pensar:
- Humm. Em duas semanas vai rolar aquele festival. Qual o nome mesmo? Deixa eu “googlar” aqui...
- Isso mesmo: Festival de Rock “Mobilização Objetiva da Ação Alternativa”. Não posso perder!
Emendando pensamento, disse a mim:
- Preciso comprar umas roupas. Google it!
No teclado: “roupas para festival de rock alternativo”.
- Que roupas feias. Parecem velhas, mas estão bem legais.
Sentindo que deveria me inteirar melhor sobre o assunto, entrei em blogs para saber como se vestir adequadamente para a ocasião.
- Acho que não vou com sapato colorido não.
Mas em voz escondida, concluí:
- Vou sim! Todo mundo tem um!
Na cabeça, alguns pensamentos rápidos e soltos passam a respeito das dicas lidas nos blogs:
- Essa bolsa parece de mulher; não vou comprar uma igual.
Nesso momento, lembro da minha barba e me questiono se ela crescerá o suficiente em 9 dias. Barba grande me agonia tanto; além dela ser totalmente assimétrica e ficar mais parecendo com sujo do que com barba, de fato. Enfim. Tenho que aguentar e ir de barba. No festival haverá gatinhas que adoram!
Lembro das tatuagens nos pulsos, muito na moda nesse meio:
- Putz, será que rola fazer uma tattoo no pulso?!
Logo em seguida penso que não:
- Melhor não!
- E as bandas?
- Deixa eu ver aqui a programação.
Vejo a lista de banda e fico confuso.Quanta banda desconhecida. Nunca as vi na TV!
Sorri sem graça dizendo:
- Nossa, não conheço nenhuma!
Procurar o som deles. É isso que devo fazer...
...minutos depois...
- Bom, acho que se aprende a gostar com o tempo. Vou ouvir até o dia do festival, assim haverá tempo de incorporar o gosto e ainda cantar junto com os demais.
Penso ser uma boa ideia ver que influências esses caras tiveram e pesquiso, mas obtenho um resultado muito confuso: Joy Division, Mutantes, Sebastian Hardie, Poesia de Rimbaud, Música Ambiente, Grunge, The beatles, AC/DC...
Em tom de ironia, solto:
- Putz, o que Beatles tem a ver com esses caras?
- Ei, deixa eu me inteirar sobre o que a galera posta na fanpage do festival..
Verifico surpreso a quantidade de mulheres que vão ao festival e a quantidade de pessoas que conhecem a banda “Nostalgia Almanach da Antiguidade”
- Caramba, essa banda é bem conhecida. Todo mundo comentando sobre eles.
- Esses caras devem ser bons!
Os dias se passaram devagar e a ‘preparação’ para o festival parecia assemelhava-se a um trabalho ruim.
...
Eis, então, que chega o dia do festival:
A caminho, no carro:
- Deixa eu golar logo umas pra eu chegar chegando, com cheiro de vodka!
Olho no espelho. Verifico se dá pra notar a carteira de cigarro no bolso da camisa quadriculada.
- Droga, cadê meu Iphone?!
- Ah, tá aqui!
... Entrando no festival!
- Olá pessoal!!
Pergunto-me em silêncio, se notaram meu sapato vermelho sem cadarço.
- Pô, eu só vim por causa da banda “Nostalgia Almanach da Antiguidade”. Eles arrebentam e me fazem lembrar muito de um metal melódico misturado com grunge, além, da influência clara dos beatles misturada com o movimento dos andarilhos da década de 70!
...ouço comentários e emendo:
- Pô, essa é minha música favorita...adoro de paixão.
Deduzi que não poderia responder “não” quando fui questionado a respeito de tocar algum instrumento musical! Noto que o diálogo poderá se estender mais do que eu realmente queria:
- Pô, eu também tinha uma banda na época do colégio, mas depois que entrei pra faculdade a turma se separou e nunca mais tocamos.
- Não não! Nós ensaiávamos na casa de um dos integrantes, não gostávamos de estúdio!
Fico meio perdido com o assunto:
- É a acústica, nós não gostávamos muito não.
Já sem saber o que falar:
- Pô, eu não conhecia esse estúdio nessa época. Qualquer dia vou lá ver se a acústica é boa mesmo.
- Não. Não chegamos a tocar na rua. Era mais passatempo.
- Pô, legal. Eu não sabia que você tocava. Vai dar uma palinha aí?
Hora de acender um cigarro, o assunto muda.
- Cara, pra ser sincero ando meio desiludido politicamente. Quanto mais eu estudo mais raiva me dá nossa situação nacional. Por mim trocaríamos todos os políticos. Nenhum presta.
Penso em silêncio mais que secreto:
- Que merda, a fumaça do cigarro da sensação de suar a barba e fica horrível! Coceira da praga!
O assunto muda para cinema e sinto que é hora de dar uma volta:
- Ahh, legal. Não tô sabendo desse festival de cinema não. Vamos marcar sim. Deixa eu ir alí com o pessoal e depois a gente se esbarra. Abraço!
Vejo um conhecido, mas aqui todos são Brothers:
- Fala meu brother, como anda a vida?!
- Surpresa; eu, aqui? Que nada, estava contando os dias para este festival.
Brigo comigo, em silêncio: - Que merda de chapéu! Aperta a cabeça e não tenho onde guardar. Agora eu entendi porque aqui quase todos andam com bolsas!! Deveria ter trazido uma, mesmo sendo feia!
Quando perguntando sobre um festival no qual eu desconhecia completamente respondo:
- Pô, não fui não neste festival que passou. Eu estava estudando e não pude ir.
- Pois é. Eu tô sabendo que esse aqui é mais devagar, mas como eu perdi o outro não queria perder ambos.
- Pô, pois é. É isso aí, vamos aproveitar.
- Ahh, ele vai tocar aí?? Ele faz parte da banda “Nostalgia Almanach da Antiguidade”? Ia morrer sem saber que tinha um amigo que tocava na “Nostalgia Almanach da Antiguidade” rs.
- Pois é. A última vez que eu soube ele ainda estava na antiga banda.
Alguem fala em saidera ao final da festa:
- Saideira depois do festival? Pô, claro que vamos. É aquele bar que fica bem na esquina da praça?!
Retruco-me, internamente: - Que merda de bar onde todo mundo fica na rua em pé ou sentado no chão!! Mas vamos lá!
...minutos depois...
- Oi gatinha, por favor, você tem fogo?! ...Muito obrigado.
- E aí, gosta do som dos caras?!
- Ahh, vc é namorada do Guitarrista?!
- Legal. Muito obrigado!
- A gente se esbarra. Até mais!
Resolvo ir embora odiando o Festival de Rock “Mobilização Objetiva da Ação Alternativa”, mais conhecido como “MODA Alternativa”, cuja principal banda era a “Nostalgia Almanach da Antiguidade” - NADA e decidi que nunca mais tentaria ser alternativo.
:)
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