Um homem de negócios.

- Olá, Srta! Bom dia, quase tarde!
(Meu coração acelera à vista de tão grande beleza e respiro fundo. Fecho os olhos por um segundo como se estivesse noutra dimensão. Não deixo a euforia prevalecer e volto a mim).

Reconhece-me de algum lugar?
(Pergunto para tentar impedir que o gélido silêncio -lançado pelo olhar surpreso da elegante dama- tome conta da situação).
(Curvo as sobrancelhas. Tento parecer normal).

- Isso não é bom. Não costumo me confundir.
(Coloco uma das mãos na algibeira do paletó de risco de giz. Apanho um papel com uma anotação. Disfarce para ganhar tempo e pensar, apenas).

- Na verdade, talvez até seja bom. Meu trabalho não é pra ser reconhecido, mas admito que estou satisfeito com sua expressão 'orgulhosa' de quem esconde a verdade. Sei que realmente não aparento trabalhar no meu ramo. Demorei a notar seu elogio metafórico. Muito obrigado.
(Sorrio de canto).

- Há algo que precise ser feito?
(Franzo as sobrancelhas, olhando-a com atenção).

- Estou à vontade sim, claro. Nada me importuna. Sou um homem de negócios. Uma dama como você deve ter o gozo do há de melhor. Por isso me chamou. Por isso eu vim.
(Sorrio gentilmente).

- Ora ora, já que sabe meu nome, como se chama a srta?
(Estendo a mão para cumprimentá-la).

- Srta, encantado.
(Pego sua mão e a beijo suavemente fechando os olhos. Vejo um mar, um céu, um horizonte. Retorno à realidade).



- Prefere conversar num lugar mais confortável e reservado?
(Lanço um olhar retribuido. Aguardo a resposta, que veio meio insegura).

- Muito bem.
(Sorrio).

- Conhece bem a cidade? Há um restaurante bem discreto no outro lado que é meu preferido.
(Consigo ouvi-lá respirar. Caminho a seu lado, calmamente. Percebo cada movimento. O barulho do sapato alto alternado às nossas respirações no frio da atmosfera)

- Ironia!!
(Minha expressão se mantém calma, sorriso leve).

- Somos compatriotas. Também sou italiano, então é coincidência. Veio em boa hora. Faremos um bom negócio.
(Sorrio de forma gentil. Tento ser natural. Chego à porta do restaurante e abro-a. O lugar é pequeno, mas confortável. Há mesas espalhadas e um balcão de madeira nobre escura, com bancos altos e clientes - a maioria homens - tomando alguma bebida. Em volta há poltronas de couro sintético. A meia luz e cores do lugar demonstram um ambiente de negócios. Me sento junto à dama, em uma mesa bem discreta no canto, iluminada com um tipo de abajur artesanal e decorada com um pequeno vazo de flor de plástico lilás. A mesa é enxadrezada, pequena, mas muito confortável. Ao fundo, uma parede com réplicas de quadros famosos e muito bem escareados à parede).

- Que bom que gostou.
(Aperto rapidamente sua mão sobre a mesa, da forma carinhosa como num flerte educado. Tenho vontade de não largar, então disfarço, fazendo sinal para o garçom servir dois carpachos e dois Nero d'Avolas , que são servidos quase imediatamente. Falo olhando nos olhos).

- Então, Srta, como posso ser útil?
(Falo com um pouco de ironia, caracterizada pelo sutil levantamento das sobrancelhas, mas não deixo de ser verdadeiro e profissional. Pela primeira vez me sinto atraído por uma cliente. Disfarçar tanta admiração por aquele olhar que pouco sorria era uma tarefa labiríntica).
(Seus olhos eram fixos, sobrancelhas claras e arqueadas. Cabelos loiros, lisos e cheios. Levemente curvados. Pele branca e estatura mediana. Busto notável mesmo dentro do vestido preto em tecido social)

- Você tem certeza disso?

( Na semana seguinte...recebi o pagamento com o dobro do valor negociado ).

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