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Mostrando postagens de 2014

Liberdade

Na tentativa de ser livre deixei de me preocupar sobre quanto dinheiro ganho ou gasto. Na tentativa de ser livre deixei de dar ou pedir satisfações à namorada. Na tentativa de ser livre larguei o emprego. Na tentativa de ser livre deixei a vaidade de lado e comi mais do que precisava. Na tentativa de ser livre deixei de cortar os cabelos para sentir melhor a vida dos ventos. Na tentativa de ser livre deixei de fazer a barba por alguns meses. Na tentativa de ser livre escutei, sem pré-julgamentos, músicas aleatórias.

Espingarda

Todos falavam sobre a habilidade do garoto - e não sem razão. Era coisa de outro mundo o que ele fazia com os pés. Era algo incrível e parecia incomparável a qualquer outro antecessor. Apesar das pernas tortas, ele era rápido, tinha força, um gingado e uma malandragem que não negavam a brasilidade. Desde muito cedo, ele havia aprendido que o mundo ao seu redor não perdoava falhas. Criado em um ambiente onde o erro era sinônimo de punição severa, ele desenvolveu uma determinação feroz para ser impecável em tudo que fazia. A sua pequena figura escondia uma resiliência descomunal, algo forjado no calor das expectativas esmagadoras e da dura realidade que vivia. O teste de fogo veio em um dia comum, mas para ele, era o dia decisivo. O chão recém-limpo brilhava sob a luz da manhã, e a pá de lixo estava ali, desafiante, esperando para ser manuseada. Com o pé direito, ele a segurou com a destreza que todos admiravam. Seus olhos estavam fixos, cada músculo em tensão, buscando a perfeição. Mas ...

De volta ao mundo real.

Finda, agora, um ciclo tão maravilhoso - em média - que a dificuldade de discorrer palavras torna-se evidente. Aconselho a todos que puderem um dia fazê-lo, faça-o: largar, por alguns meses, o trabalho. Embora seja apenas uma atividade diária, carrega consigo o ônus inato de deixar-nos muito menos “livre”. É uma experiência extremamente gratificante e engrandecedora. Obviamente precisa de toda a preparação financeira anterior para nos mantermos no mundo sem afetar aqueles que dependem de nós.   Saldo: 7 contos escritos, uma poesia, ~3200 páginas lidas, 03 novas paixões musicais, 4 partidas de futebol disputadas, muito tempo com as pessoas que amo, descoberta de novas pessoas maravilhosas, três séries e meia assistidas, um filme & alguns momentos de bastante farra. Intenso e insano. Hoje, 30/10/2014, volto a trabalhar - tradicionalmente falando - depois de exatos 07 meses. Ironicamente o trabalho será o meu descanso e veio em excelente hora. Voilà!

Sufoco

Uma dor nas costas ou algo assim. Em algum lugar, no corpo, dói uma dor sem fim. Aquele aperto no peito e aquela falta de ar. Parece até a morte avisando que um dia vai chegar. Eu não quero; não quero nenhum pouco. Continuar a viver neste sufoco.

O tempo.

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Até os 10 anos: O que? Qual? Por quê? Com 10 anos: "X" está correto. Com 20 anos: "X" é um grande absurdo, "Y" está correto. Com 40 anos: "X" estava correto. .... Fonte: Google Imagens Dá pra prever que, pouco antes do fim, voltaremos para o "até os 10 anos" e este interstício de redescobertas é o que o apaixonante Rubem Alvez chamou de "felicidades". Sim, no plural. Pelo fato delas não serem, graças a deus, contínuas. "Felicidades" é notar na passagem do tempo as redescobertas escondidas pela exatidão do presente.

Os segredos de uma mente perturbada.

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Não era a primeira nem a segunda vez. Muito provavelmente não seria, também, a última e isso o perturbava bastante a ponto de não conseguir passar, sequer, vinte minutos sem mascar seu tabaco. Fonte: Google Imagens Ele olhava para cima e não encontrava. Olhava para os lados em vão. A angústia o entorpecia, mas ele tinha que resolver aquilo. Precisava, como o fogo, do ar, de uma solução definitiva para aquela situação. Acordava e deitava pensando nisso. O dia inteiro procurando sem encontrar e as vezes até esquecia de comer.

Um banco, um copo e um jornal.

Garrafas secas e copos sujos foram a herança e testemunho de uma noite anterior regada à farra. O relógio marcava pouco mais de 6h da manhã quando o seu Joaquin varria a rua, em frente ao seu mercadinho. Foi abordado por um homem que aparentava ter entre 30 e 35 anos de idade, mas que certamente não tinha mais que 25. Ao levantar a cabeça, sentiu certo medo por nunca ter visto o desconhecido cujo movimento das mãos em direção à cintura premeditavam um provável assalto; porém, as palavras entonadas pelo desconhecido foram distintas: - Senhor, preciso da sua ajuda. Preciso de um banco, um copo e um jornal. Joaquim ficou intrigado e perguntou o porquê da necessidade. 

Gabo

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Fonte: Google Imagens É difícil falar. Não por falta de inspiração, mas pela timidez e medo de não alcançar as palavras merecidas. Na verdade é certo isto: impossível encontrar letras para descrever a poesia em forma de prosa do Gabriel.

O ritual

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O ritual era rígido. Ele estava obstinado em conseguir pegar as missangas e fazer uma pulseira com as cores vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. Por alguma razão não muito clara, achava que conseguiria crer que o arco-ires não passava de uma mera ilusão ao conseguir fazer essa pulseira. Entretanto, ele optou por iniciar o trabalho com os olhos fechados. Sentindo as cores com o próprio tato, que ele considerava de altíssima precisão. No primeiro dia foi complicado. A pulseira saiu uma completa anarquia. Mal dava para identificar alguma cor, dado a grande mistura dos grãos. No segundo dia foi um pouco melhor, mas ainda assim com um resultado péssimo. O terceiro dia foi o pior de todos. Fonte: Google imagens O resultado foi jogado diretamente no lixo. No quarto, as coisas melhoraram sensivelmente. Notou-se a ordem “vermelho, laranja e amarelo”. Depois destas que a coisa desandou, mas foi suficiente para enconrajá-lo. O arco-ires estava na iminência de nasce...

Infância

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Eram dois amigos. Muito amigos, registra-se.  A idade de ambos não era superior a 13, nem inferior a 10 anos. Na casa de um deles, daquele levemente mais novo, havia um terraço - área feita em laje de cimento que substituía o teto e que tornava disponível um dos ambientes preferidos para as brincadeiras da dupla de amigos - uma alternativa à aflição de uma infância marcada pela pobreza. Criatividade era praxe na dupla, e muito por isso, decidiram inventar uma nova brincadeira: rasgar um papel em pequenos pedaços e soltá-los do alto do terraço, para ver qual percorria o caminho mais “bonito” durante colisão de suas superfícies finas com as partículas do próprio ar. Parecia uma dança, de tão simples e perfeita que eram as coreografias dos papeis soltos do alto. Fonte: depositphotos Não eram quaisquer papeis. Eram papeis especiais. Totalmente diferenciados dos papeis tradicionais. Foram retirados de latas de leite em pó, alimento de luxo para os amigos, e por iss...

Redação Enem 2013

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Depois de muito tempo consegui uma nota superior a 85% em uma prova de redação. Apesar de eu gostar de escrever/ler desde sempre, não conseguia uma média maior que este patamar. Abaixo, minha redação do Enem 2013, com as observações em cada competência, a quem possa interessar para fins pedagógicos. A nota atingiu 98% das competêcias exigidas. Ainda pensei em fazer uma abordagem um pouco diferente, incluindo crítica/solução nos transportes públicos precários, mas como conheço poucas cidades do Brasil e poucos dados sobre isto, foi mais fácil ser generalista - para mim. O tema foi "A implantação da Lei Seca no Brasil" --------------------------------------------------------

Ciclos.

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Eu queria ouvir o barulho do silêncio absoluto e sentir a companhia da solidão que entranha a alma. Fechar um ciclo é dolorido, mas natural. Assim o é com a morte e não menos com a vida, tão cheia de ciclos entrelaçados. Fonte: Google Imagens Se algum, algum dia, não for fechado, tornar-se-á um ciclo doente, traumático e pendente; mas, para muitos, confortável. Pelo vício do conforto em não fechar.

Roubaram-me a felicidade.

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Era 4 da tarde. As conversas nos corredores do centro de pesquisa sobre mim, pela primeira vez, começavam a incomodar. Mas como sempre fui pouco sociável, deixei isso de lado. Não podia permitir que conversas de corredores atrapalhassem meu pós-doutorado. Estranhas pessoas que não entendem um cara que compra sapos de pelúcia quinzenalmente para presentear sua namorada! Eu não ligava. Tinha uma sensação de plenitude tão grande cada vez que chegava com uma pelúcia nova em casa e isso era uma das coisas que mais me davam força para continuar os estudos. Que homem não se sente feliz ao ter uma mulher só pra si? Uma mulher que dedica atenção exclusiva ao seu amado? Eu tenho essa mulher. Lembro-me o primeiro dia em que ela sentou no sofá de casa, a partir dali a felicidade não cessou. Sete anos atrás, estava começando o mestrado; recordo. Desde então nunca parei de presenteá-la com sapos de pelúcia quinzenalmente. A cada novo sapo, uma nova e leve euforia que massageava meu coraçã...

Afinal, é carnaval!

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Fonte: Google Imagens Devo me preparar para aproveitar! Tanta gente nas ruas. Tanto riso e alegria. Tudo muito bonito e animado. Afinal, é carnaval! Homens vestidos de mulheres e mulheres vestidas de homens. Fantasias variadas e muitas cores; afinal, é carnaval! As ruas escolhidas são perfeitas. Já têm o desenho da folia animada. As músicas são selecionadas a dedo num repertório de grandes mestres de décadas passadas. Tudo muito lindo e enfeitado. Mas aí eu lembro, que quarta-feira estará cinza. O cheiro não agradará ninguém e as senhoras e senhores - moradores das localidades próximas - estarão varrendo, solitários, as fachadas de suas casas; pois, tristes, ainda sentindo as náuseas causadas pela sujidade da vigília carnavalesca. Descorçoado eu penso: Não deveria tudo ser perfeito? É carnaval, afinal! Mas, não! É assim mesmo. Afinal, é carnaval!

Sonho.

Cinco. Este era o número de vezes em que lembrava ter soprado velas nos aniversários, embora sua idade marcasse oito anos de vida. Isso pouco importava ao garoto. Ele queria ir em busca de um sonho. E teve a ideia de pedir dinheiro ao pai para comprá-lo. O pai estava no seu restaurante caseiro fazendo contas como em todas as tardes, depois que a maioria dos clientes - peões de uma fábrica de cimento próxima - já havia ido embora. Muito chateado por conta das dívidas e sem tempo para dar “sermão”, o pai deu dinheiro à criança. Cinquenta Centavos de Real foi o valor dado, quantia suficiente para fazê-la correr dali, de felicidade. Alguns minutos depois, a pouco mais de cinquenta metros de distância, a criança ouve um grande estrondo: um caminhão de cimento totalmente desgovernado invade o restaurante do pai.  A criança começou a chorar e foi amparada por adultos. Pessoas ajudaram e retiraram o pai praticamente ileso, próximo à outras vítimas; incluindo algumas fatais...

Escrever.

Escrever é apaixonante. Tão bom, aliviante e confortante. É como expulsar algo ruim, colocar pra fora sentimentos negativos e capturar positivos. É como um vício saudável e quase indescritível, por sorte e azar. Sorte dos poetas, dos contadores das mais variadas histórias. Há tesão no registro do que se vê, do que se sente, do que se ouve, do que se toca. Escrever requer sentidos apurados para capturar o cheiro da comida descrita, ouvir a música cantada pelo personagem, ver a beleza de um cenário ou tatear a pele suave de alguém.

Viciado.

Ele já estava perdido há dois dias. Um piquenique que deveria ser rápido havia se tornado um pesadelo. Para piorar a situação, ele era um viciado pesado e os amigos não desconfiavam disso. Na verdade, isso parecia pior do que a fome ou ficar horas perdido na floresta. A abstinência o sufocava. Nunca admitira o vício a ninguém, por vergonha ou medo, embora a situação fosse grave. Começou a gritar, em vão, pedindo ajuda. Alguém que, mais do que ajudar a reencontrar a trilha perdida, pudesse oferecer uma dose do seu vício. Os gritos ecoavam na imensidão natural, mas ninguém os ouvia além dele mesmo. Então, um milagre aconteceu. Ele não encontrou a trilha, mas algo muito mais valioso: uma porção de jornal velho. Pôde ler algumas notícias, ainda que antigas, o suficiente para aliviar um pouco seu vício na leitura. Importante : este texto estava na minha mente desde muito tempo. Eu tinha certeza absoluta que era do Veríssimo. Outo dia decide recordá-lo e pesquisei. Pesquisei muito e não e...

Um homem de negócios.

- Olá, Srta! Bom dia, quase tarde! (Meu coração acelera à vista de tão grande beleza e respiro fundo. Fecho os olhos por um segundo como se estivesse noutra dimensão. Não deixo a euforia prevalecer e volto a mim). Reconhece-me de algum lugar? (Pergunto para tentar impedir que o gélido silêncio -lançado pelo olhar surpreso da elegante dama- tome conta da situação). (Curvo as sobrancelhas. Tento parecer normal). - Isso não é bom. Não costumo me confundir. (Coloco uma das mãos na algibeira do paletó de risco de giz. Apanho um papel com uma anotação. Disfarce para ganhar tempo e pensar, apenas). - Na verdade, talvez até seja bom. Meu trabalho não é pra ser reconhecido, mas admito que estou satisfeito com sua expressão 'orgulhosa' de quem esconde a verdade. Sei que realmente não aparento trabalhar no meu ramo. Demorei a notar seu elogio metafórico. Muito obrigado. (Sorrio de canto). - Há algo que precise ser feito? (Franzo as sobrancelhas, olhando-a com atenção). - E...

Hipster

Um estalo na minha memória me faz pensar: - Humm. Em duas semanas vai rolar aquele festival. Qual o nome mesmo? Deixa eu “ googlar ” aqui... - Isso mesmo: Festival de Rock “Mobilização Objetiva da Ação Alternativa”. Não posso perder ! Emendando pensamento, disse a mim: - Preciso comprar umas roupas. Google it! No teclado:  “roupas para festival de rock alternativo”. - Que roupas feias. Parecem velhas, mas estão bem legais. Sentindo que deveria me inteirar melhor sobre o assunto, entrei em blogs para saber como se vestir adequadamente para a ocasião. - Acho que não vou com sapato colorido não. Mas em voz escondida, concluí: - Vou sim! Todo mundo tem um! Na cabeça, alguns pensamentos rápidos e soltos passam a respeito das dicas lidas nos blogs : - Essa bolsa parece de mulher; não vou comprar uma igual. Nesso momento, lembro da minha barba e me questiono se ela crescerá o suficiente em 9 dias. Barba grande me agonia tanto; além dela ser totalm...