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Mostrando postagens de julho, 2024

Ahh, que lugar maravilhoso.

Conheci  um lugar em Joanes, vila de Salvaterra-PA (Ilha do Marajó), extremamente lindo. Tão lindo que torna a missão de descrevê-lo um desafio enredado, embora prazeroso. O Ventania era o tipo de lugar no qual eu sentia que o tempo parava. Ele tinha um lindo mirante que chamava muita atenção pela sua altura. De lá, podia-se contemplar o rio serpenteando lindamente a vegetação ao redor e a areia da praia. A sensação era a de estar no topo do mundo e fazia com que qualquer problrma parecesse pequeno.

Na tentativa de ser liver

Na tentativa de ser  livre, deixei de me preocupar sobre quanto dinheiro ganho ou gasto; Na tentativa de ser livre, deixei de dar ou pedir satisfações; Na tentativa de ser livre, larguei o emprego; Na tentativa de ser livre, deixei a vaidade de lado e comi mais do que precisava; Na tentativa de ser livre, deixei de cortar os cabelos para sentir melhor a vida dos ventos. Na tentativa de ser livre, escutei - sem pré-julgamentos - músicas aleatórias;

Amor ao tempo

Amor ao tempo. O tempo, sábio, cura a dor mortal, Transforma mágoas em sutis cantares, No peito, em flor, brota o essencial, Amadurece os seres e seus olhares.   Relógio velho, com seu modo audaz, E dá tempo ao tempo pra construção, Que faz qualquer um ser mais perspicaz, E assim notar que vive de ilusão. Mas quando a vida ensina a caminhar, Aos poucos tudo encontra seu sentido, O amor renasce, aprende a se esperar, No tempo certo, nunca é esquecido. ------------------ Mais um texto que gostei entre meus achados. Uma tentativa de escrever um soneto de amor ao tempo.

Mas por teu legado vivo e nisso me confesso.

Com lágrimas nos olhos, a dor é sentida, Despeço-me, pai, do teu amor profundo, Professor de números, da lógica e da vida, Teu saber iluminou meu pequeno mundo. Teus cálculos precisos, tua mente tão brilhante, Ensinavam mais que fórmulas e equações, Mostravam que na vida, cada instante, É um passo em direção às grandes soluções. Teu quadro guarda memórias eternas, De um mestre que era também meu guia, Nos corredores das escolas, tuas lições modernas, Ecoarão sempre, de forma maestria. Pai, professor amado, hoje me despeço, Mas por teu legado vivo e nisso me confesso. ------ Escrito em 2017 logo após a morte do meu pai.

A pior perda

A Pior Perda. A morte de uma pessoa querida não é a pior perda. A verdadeira perda ocorre quando a solidão devora todos os sonhos que um dia ousamos ter. Mata nossos sonhos, fere o peito como uma lâmina afiada e sem piedade. Arranca lágrimas com a mesma facilidade com que se arrancam flores de um jardim. Sem compaixão. A pior dor não é a da perda pela morte, mas a da perda que nos faz perceber que nada resta a fazer além de chorar. E, quando as lágrimas já não existem mais, entregamo-nos, olhamos para o céu e esperamos a vida passar. As noites parecem intermináveis. O silêncio da casa mal acabada se torna o único companheiro nas madrugadas insones. A vontade de gritar e afirmar nossa existência é menor que a sensação de repressão causada pela perda dos sonhos, que nos arremessa a um vazio obscuro e indeterminado. O som da chuva e dos relâmpagos torna-se a única música da madrugada. Contar as gotas que caem do telhado furado torna-se o melhor passatempo. As razões para viver parecem não...

Behind the tie chronicles.

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Antes de falar desse álbum, mais especificamente de uma música que me agrada bastante, é necessário fazer uma separação clara entre autor e obra. Ed Motta é uma figura controversa, com muitas declarações polêmicas que, no fundo, escondem uma pessoa de sensibilidade incrivelmente apurada, capaz de compor belíssimas e cativantes canções. A bem da verdade, Ed. Motta nunca lançou um disco mediano. Desde os tempos de Conexão Japeri, ele se destacou com uma produção milimetricamente calculada, mesmo sendo tão jovem. Demonstrou isso no pop funk de "Manuel" e na pegada dançante de "Manual Prático...". Sua carreira é repleta de composições brilhantes, com dezenas de músicas de jazz incríveis que evoluíram até culminarem no que considero sua grande obra-prima: "Behind the Tie Chronicles", lançado no final de 2023. Este álbum é o ápice de um caldeirão de gêneros musicais que sempre foram característicos do Ed. Eu simplesmente não me canso de ouvir este álbum, especia...

Curadoria da Coragem

Tenho uma pasta no Google Drive com contos, crônicas e poesias, totalizando 378 textos escritos entre 2008 e 2024. A maioria deles não tem grande valor; são textos introspectivos que refletem muito mais meu eu daquele período – algo que, convenhamos, não é particularmente interessante – do que qualquer coisa que possa despertar o interesse. No entanto, estou fazendo uma curadoria e relendo muitos desses textos. Há até um livro inacabado, várias poesias, muitos microcontos e algumas crônicas. Esse processo tem reaberto antigas feridas, e machucar-se é inevitável. Escrevi muito durante momentos de crise, muitas vezes com um processo criativo autodestrutivo.

Coisas do Ver-o-Peso

Vir a Belém e não visitar o Ver-o-Peso é como ir a Roma e não ver o Papa, disse um vendedor de peixe ao ser entrevistado durante o Inventário Cultural, realizado pela Fundação Cultural de Belém (2000). E ele não exagerou. O Ver-o-Peso é muito importante para a cultura e história paraenses, onde é considerado um dos principais cartões-postais da capital, quiça do estado. Sua história é complexa e variou bastante ao longo do tempo. Ainda segundo a Fundação Cultural de Belém, inicialmente, a casa do Ver-o-Peso foi instituída, no século XVIII, como mesa fiscal, onde eram pagos os impostos dos gêneros trazidos para a sede das capitanias. Em 1839, a repartição do Ver-o-Peso foi extinguida e a casa foi então destinada para a Ribeira de peixe fresco. Em 1847, a casa foi demolida porque foi arrendada. Foram então construídos o Mercado de Peixe e o Mercado de Carne que passaram a integrar a paisagem das docas. Já o Mercado de Ferro, começou a ser construído em 1899, sob forte influência da Belle...

Caro.

Apagou-se, em algum lugar do mundo,  mais uma lâmpada vermelha.  Como tudo que é raro,  como tudo que é belo,  foi, para mim, muito caro. Viveu pouco, nasceu com excesso de amor,  mas teve um brilho intenso, único  e avassalaDor.

Armadura

Minha paixão por música extrema é uma chama que queima no meu coração e na minha mente, especialmente quando me perco nos mundos mais sombrios do death metal, black metal e thrash metal. Desde os primeiros acordes distorcidos e os guturais esmagadores - especialmente de mulheres - até os blast beats "endiabrados" que reverberam nas profundezas da minha alma, esse tipo de música me proporciona uma sinestesia única. Pferece-me um escape, uma forma de canalizar emoções intensas e confrontar os aspectos mais sombrios da minha miserável existência. Para mim, essa paixão tornou-se intrínseca à minha medíocre identidade. No entanto, por trás dessa fachada de brutalidade sonora e visuais ameaçadores, escondo uma pessoa de extrema sensibilidade. Dedicar-me à música extrema é, muitas vezes, uma forma de lidar com a minha profundidade emocional que contrasta com a imagem de durão que projeto aos familiares, amigos e colegas. A música extrema me serve como um esconderijo, um refúgio segu...

Eles estão loucos.

A história que vos conto agora é baseada na realidade. A conheci em recente visita a um amigo, pelo qual tenho desmedido afeto, que se encontra hospitalizado. Exatamente uma semana atrás, ele revelou depois de me fazer prometer que eu não faria o que agora faço: narrar para alguém seu atemorizador segredo. Embora eu me considere digno de fidúcia alheia, especialmente de um grande amigo, necessito vos contar esse causo, sob pena de sentir compunção eterna diante de guardar para mim tamanho episódio extranatural. Segundo o que ouvi, na época do acontecimento, ele não tinha menos que 8 e não mais que 10 anos de idade. Com ainda tão poucos aniversários comemorados, dormia numa cama de casal, de tamanho médio, mas confortável, ao lado da própria mãe. Aquela não parecia ser uma noite diferente. Tudo estava dentro da normalidade, inclusive o medo terrível que ele nutria de uma moldura emadeirada, antiga e com detalhes dourados que a tornavam cintilante, que guardava uma foto clássica de Jesus...

Lâmpada vermelha

Há muito tempo, uma lâmpada vermelha me encantou. Escrevi uma crônica para ela. Não foi trivial viver uma paixão por um ser tão ímpar, identificar uma ternura que estava tão alta, tão distante do meu alcance. Nunca a toquei, mas seu luzir, sobretudo, permaneceu eterno na minha mente. O raro me atraiu.

Quebra-cabeças

Montar um quebra-cabeças é uma experiência singular, comparável ao prazer de saborear o nosso prato favorito acompanhado de um bom vinho. Mesmo quando se conhece o desenho final, há sempre um mistério a ser desvendado, peça por peça. Cada encaixe traz consigo uma nova sensação, uma alegria indescritível que provoca sinestesias. Uma ansiedade gostosa, se é que isso seja possível. Às vezes, o desafio parece insuperável, mas a chave para mudar isto é o par resiliência/paciência. Quando uma peça não se encaixa, surge um sorriso contido, mordido, de olhar cerrado; uma determinação silenciosa de quem não vai desistir.  Em outras ocasiões, a sorte nos brinda, e tudo parece fluir com facilidade. Peças se encaixam uma após a outra como num passe de mágica. Nesses momentos, sentimos  um leve frio na barriga, uma confirmação de que estamos no caminho certo. Uma alegria sincera, tão honesta. Há uma diversidade de quebra-cabeças, desde imagens reais até paisagens ficcionais, cada um provoc...

Décimo quinto andar.

Morar em um apartamento novo é, por si só, uma experiência carregada de encantamento e descobertas. Aqui, no décimo quinto andar, é onde encontramos o melhor de dois mundos. De um lado, bares sofisticados que exalam elegância e, do outro, botecos tradicionais, com suas histórias gravadas nas paredes e em cada gole de cerveja gelada. Há, pelo menos, um armarinho que "vende tudo" na mesma quadra do prédio onde resido. Impossível não lembrar de minha mãe, dona de igual empreendimento em um bairro bem mais periférico de Belém. A ventilação no décimo quinto andar é algo que merece destaque. O vento fresco que circula pela casa não é apenas um alívio nos dias mais quentes, mas um convite constante para deixar as janelas abertas - com alguma cautela, porque de tão fortes que são as ventanias, elas podem ser o mal que corrompam as vidraças a colidirem contra as paredes. Nesse ambiente, não podia faltar uma ternura maior que é preenchida por dois animaizinhos. São eles o Chico e Edgar...