Coisas do Ver-o-Peso
Vir a Belém e não visitar o Ver-o-Peso é como ir a Roma e não ver o Papa, disse um vendedor de peixe ao ser entrevistado durante o Inventário Cultural, realizado pela Fundação Cultural de Belém (2000). E ele não exagerou. O Ver-o-Peso é muito importante para a cultura e história paraenses, onde é considerado um dos principais cartões-postais da capital, quiça do estado.
Sua história é complexa e variou bastante ao longo do tempo. Ainda segundo a Fundação Cultural de Belém, inicialmente, a casa do Ver-o-Peso foi instituída, no século XVIII, como mesa fiscal, onde eram pagos os impostos dos gêneros trazidos para a sede das capitanias. Em 1839, a repartição do Ver-o-Peso foi extinguida e a casa foi então destinada para a Ribeira de peixe fresco. Em 1847, a casa foi demolida porque foi arrendada. Foram então construídos o Mercado de Peixe e o Mercado de Carne que passaram a integrar a paisagem das docas. Já o Mercado de Ferro, começou a ser construído em 1899, sob forte influência da Belle Époque. O lugar onde funciona o mercado de peixes era, desde o século XVII, um posto de fiscalização da Coroa Portuguesa, onde se verificava o peso dos produtos comercializados. Por causa disso, era chamado de Casa de Haver o Peso, daí a origem do nome.
O Ver-o-Peso se estende por um complexo arquitetônico e paisagístico de 25 mil metros quadrados, com uma série de construções históricas. O conjunto, tombado pelo IPHAN desde 1977, inclui o Boulevard Castilhos França, o Mercado de Carne e o Mercado de Peixe, o Casario, as praças do Relógio e Dom Pedro II, a doca de embarcações, a Feira do Açaí e a Ladeira do Castelo.
Hoje, o Ver-o-Peso não é apenas um marco histórico; é um palco vibrante de encontros e vivências diárias. E o Mercado de Peixes, mais especificamente as barraquinhas que ficam ao lado, dão um vislumbre à parte à cidade.
A vida nas barraquinhas é um espetáculo constante. Comidas típicas, bebidas e o açaí servidos de maneira generosa atraem uma multidão diversa. Pessoas de Belém, do interior do Pará, de outros estados brasileiros e até de outros países que chegam em excursões turísticas, movidos pela curiosidade e pela expectativa de vivenciar algo único. A miscigenação do ambiente é contagiante; músicas de todos os estilos tocam ao fundo – carimbó, brega, rock, melody – criando uma sinfonia ordenadamente caótica que embala conversas, risadas e encontros.
O cenário é vibrante. Famílias compartilham refeições enquanto grupos de amigos brindam com cervejas geladas. Turistas, por sua vez, experimentam pela primeira vez o sabor inusitado do açaí acompanhado de farinha, que a alguns agradam e outros nem tanto - o açaí tem essas peculiedades. Enquanto isso, as "bikes sons" desfilam pela área, tocando suas músicas e adicionando mais um toque de peculiaridade ao lugar.
Entre risos e conversas, flertes discretos surgem. Olhares se cruzam, sorrisos tímidos são trocados, e novas histórias começam a ser escritas. Em meio à multidão, um vendedor atento não pôde deixar de notar uma frequentadora atípica. Ela era uma turista, facilmente identificável por seu ar de curiosidade e encanto. Trocaram sorrisos e algumas palavras tímidas, e, aos poucos, uma sensação de atração silenciosa e mútua começava a se formar.
Ele, um homem branco com altura provável de 1,80m, cabelos castanhos claros e um aspecto sereno, oferecia açaí enquanto tentava esconder o nervosismo. Sua estrutura corporal bem proporcional, resultado de trabalhos braçais, ficavam mais à vista devido à camiseta preta que vestia e o permitia ostentar lindas tatuagens. Vestia uma bermuda bege e um avental de segurança, sempre simpático com a moça. Ela, também de pele branca, altura provável de 1,60m, cabelos encaracolados e ligeiramente ruivos, usava óculos escuros que escondiam seus olhos castanhos bem claros. Com orelhas pequenas, rosto e traços finos, vestia um vestido na altura do joelho e carregava uma bolsa preta cruzando o peitoral. O anel brilhando discretamente no dedo indicava ser casada, mas o encantamento era evidente. Trocaram muitos olhares, sorrisos e sutilezas por algum tempo, mas em algum momento, precisariam se despedir.
Quando isso ocorreu, o rapaz, com um gesto quase imperceptível, entregou um pequeno papel à turista. Ela pegou com carinho e o guardou na bolsa. O abraço foi o selo de um provável romance breve, mas intenso.
Ao sair do local, a turista, ansiosa, abriu a bolsa para ver o que o vendedor havia escrito. Esperava, por óbvio, encontrar um nome e um número. Em vez disso, leu: "Adorei te conhecer. Volte sempre."
O inesperado aconteceu, e talvez seja isso que torne o Ver-o-Peso o que realmente é.
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