Décimo quinto andar.
Morar em um apartamento novo é, por si só, uma experiência carregada de encantamento e descobertas. Aqui, no décimo quinto andar, é onde encontramos o melhor de dois mundos. De um lado, bares sofisticados que exalam elegância e, do outro, botecos tradicionais, com suas histórias gravadas nas paredes e em cada gole de cerveja gelada. Há, pelo menos, um armarinho que "vende tudo" na mesma quadra do prédio onde resido. Impossível não lembrar de minha mãe, dona de igual empreendimento em um bairro bem mais periférico de Belém.
A ventilação no décimo quinto andar é algo que merece destaque. O vento fresco que circula pela casa não é apenas um alívio nos dias mais quentes, mas um convite constante para deixar as janelas abertas - com alguma cautela, porque de tão fortes que são as ventanias, elas podem ser o mal que corrompam as vidraças a colidirem contra as paredes. Nesse ambiente, não podia faltar uma ternura maior que é preenchida por dois animaizinhos.
São eles o Chico e Edgar. Ou melhor, Edgar e Chico, em ordem de nascimento. Nossos dois gatos pretos, com seus olhares curiosos e passos MUITO silenciosos, são os guardiões deste ambiente. Cheios de amor e carinho, eles se tornaram não apenas habitantes, mas verdadeiros anfitriões deste novo espaço. Extremamente apegados a nós, eles seguem nossos passos pela casa, encontrando seus cantinhos favoritos, seja no sol que entra pela manhã(especialmente o Edgar) ou nas sombras frescas da tarde(especialmente o Chico). Um destaque especial merece ser direcionado ao Chico, que - essa madrugada - resolveu derrubrar nossa vitrola ao chão desmontando todo o equipamento. O custo foi de uma hora de trabalho em plena madrugada para remontá-la, sendo guiado por vídeos estrangeiros.
A propósito, Chico - nosso gato preto mais novo - AMA deitar sobre a vitrola. Os dois já formam quase uma imagem única, inseparáveis em seu encanto. Falando mais sobre a vitrola, ela é uma peça central da nossa sala de estar, dando um toque retrô que é ao mesmo tempo nostálgico e revigorante. A cada LP colocado, o ambiente se transforma. Os acordes intensos de Sepultura, as melodias envolventes de Gilberto Gil e os arranjos sofisticados de Milton Nascimento ganham vida, ressoando pelas paredes e preenchendo cada canto com memórias.
Outro fato interessante é que eu perdi bastante o hábito de leitura nos últimos anos, o que aconteceu com Taiana em sentido contrário no mesmo período. Nesse contexto, há livros, muitos livros pelo apartamento. As estantes abarrotadas de volumes de Tolstoi, Dostoievski, Edgar Allan Poe, entre outros, são um testemunho de nossa paixão pela literatura. Cada livro é uma janela para um mundo diferente, uma nova aventura esperando para ser descoberta. As noites são frequentemente passadas com um livro nas mãos, a vitrola tocando suavemente ao fundo, os gatos enroscados ao nosso lado.
Morar aqui, no décimo quinto andar, é um prazer constante. É encontrar beleza na simplicidade e no contraste, é sentir-se abraçado pelo vento e pela música, é ser cercado por amor e histórias. É, em última análise, um lembrete diário de que a felicidade pode ser encontrada nos detalhes, nas pequenas coisas que tornam a vida tão rica e significativa.
Mas ao mesmo tempo, do contrário eu não seria eu, é um exerrcício de reflexão. Um exercício de empatia. Não temos muito, mas temos muito mais do que muitos e isso - por vezes - me provoca crises terríveis. Gostaria de ajudar mais pessoas, de fazer mais caridade, de ver um mundo melhor. Gostaria de ajudar mais minha família originária.
Gostaria que todos tivessem um lar no qual pudessem chamá-lo de Décimo quinto andar.
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